Curtas-metragens buscam espaço no cenário audiovisual nacional

•novembro 2, 2008 • Deixe um comentário

Embora os patrocínios e incentivos tenham crescido, as pequenas produções cinematográficas continuam a enfrentar dificuldades para ganhar notoriedade e independência.

POR MONICA KEIKO E PAULA BARRA

Caminhos alternativos são trilhados pelos produtores de curta-metragem para conseguir algum espaço dentro do cenário de produção audiovisual no país. A visibilidade dos filmes é praticamente restrita aos festivais. O longa-metragem ainda desperta maior interesse no grande público porque conta com grandes patrocinadores e produção grandiosa. A publicidade envolvida contribui para a divulgação, produção e exibição; diferente do que ocorre com o curta-metragem.

Um dos indicados e premiados do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo desse ano foi o curta Café com Leite, dirigido e produzido por Daniel Ribeiro. Apesar de reconhecer que o investimento na produção e em festivais cresce cada vez mais, o jovem cineasta acredita que atualmente o curta serve como um exercício para no futuro se chegar ao longa-metragem. “Funciona como curta também, mas é mais um portfólio”, afirmou. E é dirigir um longa-metragem que Daniel pretende daqui pra frente. “Estou pensando em roteiro e tudo mais, estou trabalhando pra isso”.

O público do curta-metragem não se compara ao público do longa, nem em quantidade e nem em perfil. Mesmo porque esse público ainda se restringe, em sua maioria, a cinéfilos, estudantes de cinema e pessoas envolvidas com audiovisual. “Muitos amigos de cineastas e gente envolvida com cinema”, disse Ribeiro.

A maioria dos curtas busca patrocínio através da Lei Rouanet, e seus projetos são analisados pela Secretaria do audiovisual, vinculada ao Ministério da Cultura. Outros buscam patrocínio através da Lei do Audiovisual, e esses projetos são analisados pela Agência Nacional de Cinema. No processo de seleção não é julgado o roteiro do ponto de vista artístico, apenas verificado se o seu orçamento real coincide com o orçamento apresentado. Também é verificado se a empresa produtora proponente do projeto está em dia com suas obrigações legais (imposto de renda, ISS, registro na Ancine). “O Estado não pode financiar projetos de empresas que não estejam absolutamente em dia com a lei. Se esses requisitos forem atendidos, o projeto estará apto a captar recursos na iniciativa privada ou em empresas estatais, que podem abater do seu imposto de renda a pagar o financiamento de projetos culturais”, explica o assessor de imprensa da Ancine, João Carlos Rodrigues.

Quanto à verba destinada ao investimento, Rodrigues afirma que não há uma porcentagem certa destinada aos curtas e aos longas; os projetos são apreciados pela data de entrada na agência, sem preconceitos quanto ao formato, duração ou unidade da federação.

Segundo o assessor, o retorno que esse tipo de produção audiovisual traz aos patrocinadores não é significativo no aspecto financeiro. “O maior retorno é cultural”, declara.

A divulgação e o patrocínio são as maiores dificuldades e limitações. No entanto, a Internet ampliou o meio de propagação dessas produções. Alguns sites disponibilizam conteúdo específico para os apreciadores da cultura dos filmes em formato de até quinze minutos, que se expandiu pelo Brasil a partir da década de 70. O portal da Petrobrás destinou uma área para o tema, filmes premiados em importantes festivais fazem parte do acervo do site. A empresa é a maior patrocinadora de cultura no país; em 2007, investiu 172 milhões de reais. Além de ajudar na circulação dos curtas, apóia diversas iniciativas de difusão da produção nacional.

A televisão contribui também, porém com uma parcela ainda pequena de canais interessados em tornar visível o assunto. O Canal Brasil exibe durante o ano inteiro o programa “Curta na Tela”. Em paralelo, apresenta a edição anual do Grande Prêmio Canal Brasil de Curta. O projeto televisivo conta com o apóio de um júri para selecionar, nos principais festivais do país, os melhores filmes nacionais que serão exibidos e concorrerão ao prêmio de 50 mil reais. André Saddy, gerente de Projetos, reforça o estímulo que o canal oferece aos curtas. “Exibição em horário nobre e o aumento das premiações”.

De acordo com Saddy, o público do Canal Brasil é mais escolarizado e em torno de 35 anos. “Há sempre bastante audiência nas sessões fixas do canal para apresentação de curtas. Um caminho alternativo para as pessoas que só os assistiam em festivais”.

Um ex-esporte brasileiro

•outubro 31, 2008 • Deixe um comentário

Basquete brasileiro vive a pior crise de sua história, mas criação da LNB pode ser o começo da reestruturação do esporte.

POR GUSTAVO FALDON

 

Oscar, Hortência, Magic Paula e Wlamir Marques. Esses são alguns dos nomes que fizeram o basquete se tornar um esporte popular no Brasil, mas parece que títulos mundiais, medalhas olímpicas e anos de determinação não foram suficientes para esse esporte se manter bem estruturado no país.

A atual situação do basquete no Brasil é precária, e há muito tempo é possível definir o basquete em uma palavra: crise. O esporte foi durante muito tempo o segundo na preferência dos brasileiros, atrás apenas do futebol, mas hoje em dia não é mais assim. O ex-jogador Oscar, hoje comentarista e palestrante, quando perguntado sobre isso, respondeu: ‘’O basquete não tem bons resultados, nosso país é torcedor da seleção, se ela não ganha ele torce por outro esporte”. Eduardo Agra, também ex-jogador de basquete, que chegou a jogar no basquete universitário americano e hoje é comentarista no canal ESPN, tem uma opinião diferente: ‘’O basquete brasileiro ainda tem uma estrutura arcaica, as coisas continuam do mesmo jeito de antes, de uma forma amadora. Os outros esportes se modernizaram, com patrocínios, direitos de TV e marketing, o basquete não”.

Analisando as participações das seleções feminina e masculina nas competições internacionais na última década, somente as mulheres não têm dado vexames(ganharam prata em Atlanta-96 e bronze em Sydney-00), já a seleção masculina, não vai a uma olimpíada há 12 anos e a cada torneio pré-olímpico, ou mundial que se disputa, nenhum resultado bom é alcançado. Tomando como exemplo a última participação da seleção no pré-olímpico mundial de basquete, que aconteceu em Julho de 2008, apenas oito dos catorze convocados atenderam ao pedido de tentar levar o país à uma olimpíada novamente. Jogadores importantes que atuam pela NBA, casos de Leandrinho, Anderson Varejão e Nenê, não aceitaram a convocação, assim como Guilherme, que atua na Europa. O caso de Leandrinho foi visto como menosprezo à seleção, pois ele havia alegado que não disputaria o pré-olímpico em razão de uma contusão, e uma semana depois o jogador foi flagrado jogando futebol nos Estados Unidos com seu companheiro de time na NBA, Steve Nash.” O argumento deles não cola pra mim, é muita coincidência, ainda mais quando vemos o Leandro jogando futebol uma semana depois da dispensa”, acusou Oscar.

Mesmo a seleção masculina não tendo participado das últimas três olimpíadas, o presidente da CBB (Confederação Brasileira de Basketball), Gerasime Nicolas Bozikis, ‘’O Grego”, em entrevista ao canal ESPN após a decepção do último pré-olímpico, afirmou: ‘’O basquete brasileiro sempre cresceu e está crescendo”, baseando-se nas conquistas dos jogos Pan-Americanos, e dizendo que a classificação para a olimpíada era apenas um detalhe. Uma opinião que foge completamente da realidade do esporte atualmente. Oscar coloca a CBB como responsável por essa queda do basquete: ‘‘Foram já 4 mundiais em que a melhor posição foi um oitavo e 3 olimpíadas sem participação; a última que fomos , em 1996, eu ainda jogava. Espero que a CBB finalmente autorize os clubes a tomarem conta do campeonato, massifique o basquete com escolinhas nas federações e faça uma escola de técnicos”, sugere o cestinha.

Após três anos de ruptura de relações entre CBB e os clubes brasileiros, finalmente foi feito um acordo entre ambos para a criação de uma liga nacional. A LNB(Liga Nacional de Basquete) será comandada pelos clubes, terá presidência de Kouros Monadjemi, ex-presidente do Minas e amigo pessoal de ‘’Grego”, e tem a chancela de 20 clubes, que para participar terão que abrir uma franquia, igual à NBA. Ainda seguindo o modelo do basquete americano, a Liga contará também com jogo das estrelas e campeonato de enterradas, eventos tradicionais no basquete norte-americano. Para Eduardo Agra, a LNB pode ser uma saída para o nosso basquete, pois é algo que ocorre no mundo todo ‘’A liga tem que ter visibilidade, tem que usar estratégias de marketing para fazê-la crescer, e não pode ser feita de forma amadora, tem que ser profissional”, completa ele.

Entre livros, bagunças e poeira.

•outubro 30, 2008 • Deixe um comentário

Prateleiras abarrotadas de livros, uma pessoa sempre disposta a atender e um toque sutil de bagunça que transmite a sensação de conforto.

 POR CAMILA BICHUETTI E YUMI MIYAKE 

Existe uma diferença entre um livreiro e um vendedor de livros. O livreiro é aquele que sabe dar indicações e aconselha o cliente na hora da compra. Já o vendedor de livros não tem conhecimento acerca do assunto e só vende o que é pedido. “Para se trabalhar em um sebo é preciso saber do que se trata, passando assim confiança ao cliente, que se sente satisfeito com o preço pago pelo livro que ele tanto desejava.” Assim afirma Vera Brandão, uma das proprietárias do Sebo Brandão, no centro de São Paulo, há 55 anos em funcionamento. O sebo contém quatro andares, imperceptíveis para quem passa apressado pelas ruas movimentadas do centro da cidade. 

Duílio de Sousa dono do Sebo Everest, nas proximidades da Universidade Presbiteriana Mackenzie, conta que os sebos são importantes pois eles conservam livros, obras e edições que não são mais publicadas, na sociedade moderna. O preço dos livros não varia de acordo com o estado de conservação do mesmo, mas sim com a sua raridade, e a importância dos autores. “Eu mesmo tenho na loja um livro muito antigo e nem por isso ele é o mais barato, pelo contrário.” De acordo com ele, um livro nunca é caro, se levarmos em conta a sabedoria e o conhecimento que ele traz consigo.

 Apesar da aparente bagunça, os sebos são divididos por área, setor e autor. Isso facilita o trabalho do vendedor na hora de achar um livro. 

As pessoas contam com inúmeras facilidades na hora de comprar um livro devido as tecnologias como a internet, que ajuda na procura e venda. Um exemplo são os sebos virtuais, como o site “estante virtual” Isto acaba constituindo uma forma de concorrência para os sebos tradicionais. Porém a internet é um instrumento que pode ser utilizada também pelos proprietários de sebos na catalogação do material. Questionada sobre a influência das tecnologias, Vera Brandão responde dizendo que “o livro nunca irá morrer” e completa sua frase ressaltando a importância cultural dos livros na hora de se pesquisar a fundo algum tema. A dona do Sebo paulistano, Rosemeire Bezerra, localizado no coração de São Paulo, conta que apesar dessas facilidades ela não abre mão de expor os livros, pois existem pessoas, como os colecionadores que gostam de ver, tocar e folhear o livro antes de comprá-lo. Quanto ao público alvo, ela explica que os colecionadores eram quem mais freqüentavam os sebos e que atualmente estes são procurados por todo tipo de pessoa: estudantes, crianças, idosos, mestrandos, doutorandos, advogados, juízes,… 

Os livros são adquiridos por vendas ou doações; algumas vezes de bibliotecas particulares e instituições filantrópicas (que ganham muitos livros e vendem para se sustentar). Os livros que chegam em baixo estado de conservação são mandados para restauração e encadernação, mostrando assim a preocupação do livreiro em relação aos clientes e o produto. 

Uma das preocupações de donos de sebos, diz respeito à falta de segurança que esse tipo de estabelecimento acarreta, mas buscam sempre deixar o cliente à vontade. Rosemeire contou alguns casos de pessoas que mudam os livros de lugares e arrancam páginas. Em outro estabelecimento, o Sebovero, na região oeste de São Paulo, o proprietário que não quis se identificar confessa que fecha o estabelecimento, quando tem que acompanhar o cliente ao subsolo, pois tem medo de que as pessoas possam roubar livros. 

De acordo com a edição 2003 do “Guia dos Sebos”, de Jorge Brito, existem 91 sebos na cidade de São Paulo. Entretanto, esse número não pode ser confirmado, visto que muitos sebos abrem, mas por não conseguirem se manter, principalmente devido ao alto custo do aluguel dos estabelecimentos, fecham rapidamente.

Já que no Brasil não temos uma cultura de leitura assídua, é importante destacar o papel do sebo na sociedade, uma vez que este é uma oportunidade para as pessoas que não tem tantas condições financeiras adquirirem um livro. Rosemeire do Sebo Paulistano procura doar alguns livros para quem não tem condições de obtê-los. Ela fala da importância da leitura e os vê como uma forma de incentivo ao conhecimento.

Terceira idade Online

•outubro 30, 2008 • Deixe um comentário

Seja para se comunicar ou conhecer um mundo novo, a internet já é uma opção para os idosos

POR CAMILA CAPUTTI

O mundo está repleto de novos adventos, a cada dia uma nova tecnologia bate a nossa porta. As gerações mais jovens recebem com facilidades as mudanças, mas a terceira idade demora um pouco para se adaptar. E algumas questões como a falta de paciência, o medo e muitas vezes o custo atrapalham ainda mais essa adaptação.

O idoso de hoje tem uma vontade de conhecer o novo, uma disposição impressionante, mas além das dificuldades motoras e alguns problemas de visão, o medo também os inibe, conta a professora de informática da UATU, Universidade Aberta do Tempo Livre, Alice Mayumi Kotani, “Eles têm muito medo de estragar alguma coisa, ficam com receio e muitas vezes a família que transmite isso.”.

Para socializar e aproveitar melhor o tempo, muitos idosos procuram as aulas de informática, e a professora ainda comenta que além do e-mail, muitos alunos querem aprender a usar o MSN e o SKYPE, para poder comunicar-se com a família que está distante.

E foi o que aconteceu com a aposentada goiana Luiza Dias de Oliveira, 69, que tem uma neta morando na capital paulista. “Sofri muito com a falta da minha neta Mariana depois de sua ida para São Paulo, então procurei uma maneira mais fácil e mais econômica de estar perto dela.”, diz a aposentada, que hoje tem e-mail, e fala com a neta quase todos os dias por MSN. Luiza ainda confessa que demorou um pouco a aprender a mexer no computador com medo de deletar tudo que já estava salvo, mas que nunca se sentiu excluída por não saber.

“Sinto-me meio analfabeta”, declara Naide Gaspar Rezende, 72. Ela foi professora quando mais nova e hoje fala isso quando se trata de computação. A aposenta já se inscreveu em uma escola de seu bairro, mas por causa da saúde do marido teve que desistir, além disso, ela falou que era muito caro, e que com certeza não iria conseguir pagar. Naide ainda não desistiu, disse que assim que puder vai voltar na escola e se inscrever novamente, a vontade de conhecer o mundo mesmo dentro de casa é muito maior do que alguns probleminhas. “Gosto muito de geografia e história e acho que posso conhecer muito coisa através do computador.”, revela.

Uma coisa é unânime a todos, as novas tecnologias, computador e internet vieram para deixar o mundo mais fácil e aproximar as pessoas, basta um esforço e todos vão ter acesso a essas facilidades.

Hum… Homens Na Cozinha

•outubro 30, 2008 • Deixe um comentário

Eles cozinham, te servem e ainda lavam a louça. Como trabalham os cozinheiros do Brasil.

POR SARA MARTINS E BETANIA DE LIMA

Quando se fala em cozinha, panelas, receitas e ingredientes, é comum formar-se a idéia de uma mulher, uma dona de casa de avental pilotando um fogão. Porém, esse paradigma não passa de um equívoco. Os homens estão na cozinha há muito mais tempo do que as mulheres.Antigamente os banquetes que a realeza oferecia aos nobres eram muito mais do que um simples jantar de luxo, era uma verdadeira obra de arte. Para cada um deles demandava no mínimo dois meses de preparação. Era preciso carregar muito peso, além de abater animais e mexer com sangue. A culinária nunca fora serviço para mulheres.

O que sempre separou os homens das mulheres na cozinha foi o quesito da arte. “Existe uma grande diferença entre a arte da receita e a arte da gastronomia, as mulheres se encaixam na primeira, que é a culinária sem técnica, sem regras, é praticamente instinto. Uma pitadinha aqui, uma salpicadinha ali. Já os homens estão concentrados na segunda arte, cheia de técnicas, hierarquia dos ingredientes e tempo determinado.” Afirma Thiago Stocco, 22, estudante de gastronomia na FAENAC.

O Brasil tem dado mais atenção à gastronomia nos últimos anos. O evento Casa Boa Mesa, que aconteceu no mês de setembro, entre os dias 10 e 30 no Jockey Club em São Paulo, é uma demonstração disso. Chefs de todo o Brasil davam aulas de gastronomia, ensinavam truques e composições dos alimentos.

Gerson Camargo, 38 anos, especializado em confeitaria e pães, trabalhou no evento, dando oficina de preparação de bolos. Para ele a regra número um para qualquer um que queira se aventurar na cozinha é: “muito amor, carinho e paciência em tudo o que você fizer.” Camargo se interessou pela cozinha aos 12 anos de idade. “Quando estamos predestinados, tudo conspira para te levar ao lugar certo”.

Stocco conta como tomou gosto pela cozinha, aos 7 anos. Um dia cheguei em casa morrendo de fome, minha mãe não estava, peguei um frigideira enchi de óleo, liguei todas as bocas do fogão e fritei um ovo. O negócio quase explodiu, mas até que o ovo ficou bom”.

Entre os amigos e a namorada, ele é sempre quem cozinha. Não que isso seja um problema, pelo contrário, ele sente prazer em servir e em ver que comem com prazer aquilo que prepara: “Quando você come, o faz por dois motivos: por prazer ou por necessidade. Quando você cozinha por necessidade, alimenta somente o corpo, quando é por prazer, amor, a comida alimenta a alma”. Filosofa o jovem, que sonha em ser Chef em cruzeiros europeus.

Como Stocco, Glauco Morato, 23 anos, estagiário do quarto semestre da FEANAC, começou a se interessar pela cozinha cedo, aos 14 anos. Teve grande influência da mãe, que tinha um restaurante por kilo. Morato explica que o mercado está se expandindo a cada ano, com um leque de possibilidades se abrindo. Ele trabalha para conseguir abrir um restaurante de comida mexicana, que é a sua especialidade.

Na visão das mulheres, Sabrina Oliveira, estudante de arquitetura da universidade do Ibirapuera, 23 anos, admira o trabalho dos homens na cozinha e aponta o ainda existente preconceito. “É super charmoso, normalmente homens que cozinham não fazem por obrigação, mas porque realmente gostam. Acho muito bonito. Também acho que existe esse preconceito entre homens e mulheres. Pode reparar em programas de televisão, é sempre uma mulher bem mais velha, ou até uma avó mesmo, quando são homens existe um certo requinte”.

Esse preconceito gera também estereótipos, como na visão de Morato: “Nessa área ou o Chef é bem louco ou então é gay. E eu sou bem louco, viu.” Brinca. De qualquer jeito, gays, loucos ou charmosos, homens na cozinha dão um sabor todo especial. Vocês não acham?

Rua, albergues e moradias provisórias

•outubro 30, 2008 • Deixe um comentário

Relato sobre a situação dos albergues e das moradias provisórias

POR DANIELA E DAIANA FERREIRA

“Do albergue a tendência é rua de novo. Isso é um retrocesso. Nós queremos melhorar e não melhorar”. É como Ana Claudia Mita descreve sua situação e de seus companheiros na moradia. De fato, se depender da vontade dos moradores de rua eles não voltam a viver de forma tão precária. Mas, se depender da vontade do poder público e da Prefeitura Municipal de São Paulo, será difícil este regresso não acontecer.

“É a realidade como de todo brasileiro que não tem emprego, não tem nada” aponta Pedro Nilo, um dos moradores em situação de rua. Onde não há emprego, não há renda. Os escassos programas sociais existentes também não são capazes de solucionar o problema, não sendo nem efetivos e nem eficazes. “Não há política pública”, afirma enfaticamente este morador que morou na rua durante três anos  e agora é albergado, mas ainda acha que não esta preparado para voltar a sociedade.

Em geral, os moradores de rua, entram para o programa de assistência social e logo são excluídos. A maioria dos moradores circula de albergue em albergue, numa situação de permanente instabilidade. Somente alguns conseguem vagas em moradias provisórias (abrigos e albergues). Nestas moradias eles permanecem durante um prazo irrisório e depois acabam voltando para rua. Voltando a perambular de albergue em albergue e por vezes a rua é a única opção. Sem emprego não há moradia. E sem moradia não ha emprego. A entrada dos programas sociais que deveriam ser viabilizadas durante o período de permanência na moradia, tais como bolsa aluguel ou locação (moradia) social, não acontecem. A assistência social representada pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social e as Superintendências de assistência social, trabalham no limite de sua capacidade e não são amparadas pela secretaria da habitação nem pela secretaria do trabalho.

Este é o ciclo da inclusão-exclusão que faz inflar as estatísticas do governo e não resolvem (e nem querem resolver) os problemas da população. São estas estatísticas maquinadas pelo estado, mostrando uma suposta eficiência do serviço social no numero crescente de atendimentos pelo programa, atraem os recursos internacionais. Segundo o jornal dos povos de rua O Trecheiro, “A união Européia destinou através do BID $15 milhões de euros (o equivalente a R$45 milhões) para viabilizar a inclusão social, econômica e cultural. Tal inclusão contempla principalmente a região central, dentre os grupos considerados mais vulneráveis, estão as pessoas em situação de rua.” Resta saber onde serão aplicados estes recursos. “O que eles vão fazer com quinze milhões de euros? Poderiam fazer casas. Eles irão fazer? Não! Vai continuar esse assistencialismo. Da mesma forma”, indaga Pedro Nilo.

Lembrando que as moradias provisórias, por exemplo, também são pagas pelos moradores em situação de rua através das taxas de condomínios.

Este é pequeno retrato de como vem sendo tratado os problemas habitacionais pela Prefeitura de São Paulo. E chamamos a atenção que ao tempo em que a prefeitura despeja os moradores de ocupações populares do centro propondo como solução a entrada para programas do governo. Estes sistemas mostram esgotamento e impossibilidade de sustentar provisoriamente a situação dos beneficiados e dos que aguardam na fila das esmolas.

Por isso, os moradores em situação de rua começam a se organizar em assembléias dispostos a pressionar o poder publico por uma solução definitiva. “Chega de esmolas, queremos futuro!” está é palavra de ordem daqueles que há anos vêem somente promessas por parte do governo. E perguntamos: Se em São Paulo há casa para todo mundo, porque todo mundo não tem casa?

Mercado de trabalho reserva vaga para vários perfis

•outubro 30, 2008 • Deixe um comentário

Tendo em vista os cursos disponíveis no CCL (Publicidade e Propaganda, Letras e Jornalismo) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o jornal Acontece encarregou-se de desvendar as pretensões do mercado atual, por meio de entrevistas com profissionais de cada área, para absorver os recém-formados lançados em disputa de empregos. 

POR RICARDO CHAPOLA

 É difícil saber o que as grandes empresas procuram dos candidatos disponíveis e carentes de emprego. E isso inclui também os universitários (neste caso, os estudantes de Letras, Jornalismo e Publicidade), prestes a iniciarem carreira profissional. Grande parte desse desconhecimento já fica evidente nas entrevistas para efetivação de mão-de-obra. Vestuário, brincos, piercings, tatuagens serão diferenciais? Como devo me portar se for empregado? Devo ser mais formal do que o comum (tanto no vestir-me como no falar)? São dúvidas que geralmente podem vir à tona quando não se sabe qual o perfil mais almejado pelas instituições.

À par da situação, o Acontece vasculhou nos setores de Comunicação, Publicidade e Letras quem poderia apontar as reais preferências das empresas na busca de perfis de empregados ideais. Em entrevista feita por e-mail com Graziela Puerto, analista de Recursos Humanos do Grupo Estado, foi suscinta ao afirmar quais os aspectos procurados no candidato. “De forma geral, são efetivados os profissionais que possuem bom nível cultural (sejam fluentes em outros idiomas, por exemplo), boa comunicação, criatividade, relacionamentos harmônicos e senso crítico. São os que se destacam”, aponta ela.

Vanessa Elizabeth Christov, psicóloga da agência publicitária DM9 que presta contas ao Itaú, Bohemia, Varig, Terra, Sadia, C&A, Nokia, Intel entre outros, reforçando o depoimento de Graziela, diz que teoria sem prática é, em parte, inútil. “O que nos interessa é o reflexo do rendimento acadêmico do estudante. A entrevista e a experiência prática são expoentes”.

Com relação aos trajes e adornos como tatuagens e brincos, para a DM9, são indiferentes. “A aparência não é critério de avaliação e sim a atividade, o gosto pela publicidade, dedicação, inovação e dinâmica do entrevistado” revela. “A DM9 tem gente que veste terno e gravata, como também os tatuados, com piercings e tudo mais” finaliza.

Concorde com Vanessa, Laez Barbosa Fonseca, técnico pedagógico do Colégio São Luiz, endoçou o discurso da psicóloga: “Nada contra esses costumes, mas se deve relevar a capacidade de se impôr no contexto da escola, de transmitir o conhecimento. No São Luiz, temos professores cabeludos, com brinco. Só acho que devem atentar a uma postura mais formalizada durante a entrevista, o que não significa se desvencilhar de seus estilos” afirmou.

Anna Melo, editora de moda (produção fotográfica e textos) da Revista Molde e CIA, também deu seu depoimento. No entanto, a jornalista relativiza alguns pontos. Segundo ela, cada empresa tem o seu perfil. “O estudante precisa estudar o modo de vestir, por exemplo, do local onde pode trabalhar para saber como se apresentar: cabelo, barba, camisa, calça e sapato. Como também precisa saber a missão da instituição, os objetivos e o que ela realmente espera do candidato. Para mim, o propenso funcionário deve ter somente sensibilidade na entrevista, no primeiro momento, para falar na medida certa. Entonação, postura, olhar, simpatia e confiança contam muito neste contato” declara.

Enquanto possa existir receio de incessantes dificuldades na busca de emprego no concorrido mercado de trabalho, Anna Melo ainda salientou: “Tudo bem que não é facil, porém se houver verdadeiro interesse e dedicação em conhecer, o universitário percebe que há espaço para todos os estilos imagináveis nesta vasta variedade de profissões existentes”.

16 anos de rebeldia sem violência

•outubro 30, 2008 • Deixe um comentário

Todo mundo fala sobre os problemas ambientais, todo mundo assiste às notícias, mas, pouca gente veste a camisa do verde

POR MAYARA MALUCELI

Paz verde é a tradução. Mas não existe interpretação melhor que o original. O trabalho do Greenpeace comemorou 37 anos de atividade em defesa ao meio ambiente, no dia 15 de setembro. Dia vivo. Já o Brasil passa bem junto à Organização não-Governamental há 16 anos. Uma adolescência de muita rebeldia calada, sem violência.

Lembra do Eco-92? Pois bem, o Rio de Janeiro foi sede para Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento cujo objetivo era buscar meios de conciliar o desenvolvimento sócio-econômico com a conservação e proteção dos ecossistemas da Terra. Nesse ano também atracou no Rio, o barco do Greenpeace. Rainbow Warrior. Guerreiro do arco-íris. O espectro colorido, naquele ano, fixou 800 cruzes em Angra dos Reis, simbolizando o número de mortos em acidente nuclear, na Ucrânia. Essa foi a primeira campanha do Greenpeace em terras brasileiras.

Não é apenas sobre química que o Greenpeace quer alertar no Brasil. Principalmente a Amazônia. O mês de agosto foi repleto de denúncias sobre as queimadas que ali se alastram. Aconteceram show de Scorpions, em Manaus; em protesto, colaboradores da Organização se vestiram de bombeiro, em Brasília; e, no site do Greenpeace, foi divulgado um relatório revelando a porcentagem dos fogos não-orientados no pulmão do Planeta. No entanto, nenhuma dessas ações foi manchete, muito menos, chamada de telejornais, e sim, meras notinhas de papéis de carbono.

Como se sabe, o Greenpeace não depende do Governo do país que está instalado. Hoje, são mais de 40. A arrecadação oriunda das pessoas físicas, dos filiados. Em dez anos, 1997-2007, foram mais de 25 mil filiações, segundo o banco de dados, disponibilizado pela equipe do Greenpeace que preferiu não divulgar o contato. “Basta entrar no site ou cruzar com nossa equipe nas ruas e preencher os dados solicitados. A pessoa se tornará um colaborador permanente, contribuindo financeiramente com a organização”, em conversa por e-mail.

E o que eu ganho com isso? Ora, além de participar de uma das mais organizadas e bem sucedidas Instituições em prol do meio-ambiente, você receberá uma revista que relata os gastos do Greenpeace, e como está a relação sociedade-ambiente! E essa é a principal tarefa da Organização: ser transparente.

Laura Fuser, atendente do colaborador do escritório Greenpeace, respondeu por e-mail que a essência do trabalho da Organização está na atuação não-violenta. Isso consiste numa atitude árdua, mas de gratidão; uma vez que as campanhas não só denunciam e produzem relatórios, como apresentam soluções para tais problemas.

Uma campanha bem visível e novinha é a dos Oceanos. No domingo 16 de agosto, o parque Villa-Lobos foi palco para uma tenda da Organização. Era um túnel sensorial que explanava e ilustrava as discussões que ocorrem sobre as águas azuis escuras. De acordo com as informações do blog (http://greenpeace.blogtv.uol.com.br/), mais de 400 pessoas colaboraram para o vídeo explicativo do projeto. Foi uma participação, ainda, baixa.

Outra forma para contribuir com o crescimento da Organização é fazer compras! Pois é, existe uma butique, no Shopping Frei Caneca, em frente à Renner. A idéia não é vender algodão cru, e uma estampa em verde, muito menos se tornar em concorrente à loja de varejão, mas comercializar uma causa.

Ana Maria Fuentes, 55 anos, é a dona da idéia do amigável. Lá na simpática lojinha não são vendidas peças ecologicamente corretas, pois melhor não haveria. “Os nossos produtos não passam de 5% não-orgânico. Ainda não é o ideal, é o que podemos fazer no momento. Mas pode melhorar. A gente sempre pode melhorar” enfatiza. “Se você disser que uma coisa é ambientalmente correta você fecha muito a questão. Eu acredito na idéia que qualquer coisa pode se superar, por isso prefiro o termo ecologicamente amigável a correto. É mais apropriado.”

Camisas, bijuterias, papelaria e outros artigos são os produtos da loja. Perguntei à Ana Maria a situação das vendas; em tom de esperteza contou-me que estão amigáveis (podem melhorar). De certo, o primeiro semestre não foi bom para o varejo em geral, devido à crise dos alimentos. Muita gente se endividou e acabou transtornando a economia global. Mas a dona do Espaço está confiante quanto ao Natal. “Geralmente dobra, algumas vezes triplica. As pessoas gostam de presentear com os nossos produtos. Pega super bem.”

O preço dos produtos é justo. Afinal, entre vários outros fatores, a produção de algodão orgânico no mundo é pequena. Apesar do enorme incentivo, os livres cultivadores não produzem o suficiente para o que pede a demanda.

Nem sempre é possível agradar a clientela. Muitos pedem uma camisa preta, por exemplo, “mas não dá” declara. Combinações de ervas não chegam à ausência de cor, exige muita química. No entanto, quando e onde deve ser orgânico, a loja é bem amigável. A madeira que recobre as bancadas é Teca, prima do eucalipto; as tintas são à base de água; para dar resistência às prateleiras utiliza-se MDF, um aglomerado de resto de madeira. 

Para mais informações sobre o Greenpeace, ou, melhor, se você quiser contribuir, entre no site: http://greenpeace.org.br

Por trás dos benefícios dos cosméticos

•outubro 30, 2008 • Deixe um comentário

Testes em animais serão facilitados por lei que aprova tal prática e entra em vigor

POR SABRINA FANTONI E MARINA MAC DOWELL

O termo “vivissecção” surgiu do ato de dissecar animais vivos para estudo, por isso o prefixo “vivis” da palavra. Esse é um assunto que vem polemizando e dividindo opiniões: há aqueles que crêem ser sensata a prática de testar produtos em animais – que não é necessariamente o ato de vivissecar- para que possamos utilizá-los com segurança; em contraponto, existem aqueles que são totalmente adversos a esse tipo de teste não só por ser uma forma de maus tratos ao animal, mas sim por consideraram um atraso da ciência e por ser totalmente substituível e descartável.

A lei sancionada no dia 9 de setembro de 2008 permite o uso de cobaias para fins científicos, porém o projeto de lei do deputado Sérgio Arouca propõe uma fiscalização forte em cima da indústria vivissectora, criando o Conselho Nacional de Experimentação Animal (CONCEA), que avaliará e irá monitorar a substituição do uso de animais em pesquisas.

Quanto à lei, segundo a ONG “gato verde” de Deolinda Eleutério, a indústria da experimentação animal sofre grave pressão no exterior e por isso precisava de suporte no legislativo para poder realizar as suas atividades do terceiro mundo. Do ponto de vista prático, a medida acaba com leis municipais que tentam proibir a pesquisa com animais.

Cerca de 400 milhões de animais são sacrificados todos os anos pelas necessidades da vivissecção. Um terço desse incrível número pertence à investigação médica; dois terços a atividades diversas: indústria de alimentação, cosméticos, produtos de limpeza, tabaco e indústria de guerra. São ratos, porquinhos da Índia, coelhos, cães, gatos, macacos, cavalos, bois que servem de “instrumentos biológicos”.

Há muitos casos comprovados de medicamentos testados em animais em que não foi constatada reação alguma, mas quando ingeridos ou aplicados no homem, causaram sérias complicações. Todas as empresas têm a mesma argumentação; estão agindo conforme a lei.

Foram feitas pesquisas e é mais do que provado que os ensaios nos animais nunca darão uma perfeita satisfação, pois, por sua constituição, tamanho e reações orgânicas, eles diferem enormemente do homem, além de custar a vida de animais sem finalidade. As conseqüências nos bichos são, dependendo dos testes, cegueira, convulsões, lesões pulmonares, renais e hepáticas.

Com o avanço tecnológico é evidente que existem outros meios para podermos usar cosméticos, remédios e muitas outros produtos sem que precise violar a integridade física dos animais. Segundo a Aliança Internacional do Animal (AILA), há produtos que são verificados quanto à segurança via modelos de computador, in vitro (tubo de ensaio) ou em pele humana clonada, ou usando ingredientes já listados no registro da FDA de substâncias consideradas seguros. Muitas vezes, as experiências em animais são praticadas com requintes de crueldade, causando sofrimento físico e psicológico para eles.

A comodidade, o baixo custo faz com que essa pratica seja intensa, a Assessora de Imprensa da ONG Projeto Esperança Animal (PEA), Cristina Bonagamba diz que: “Acreditamos que as empresas insistem no uso de animais por ser mais barato e mais fácil, porém, de longe, não é o método mais seguro para o ser humano. Ao longo dos anos, muitas pessoas morreram devido aos testes feitos em animais. Eles não reagem da mesma forma que os humanos. Entre inúmeros exemplos, um deles foram as pesquisas em animais prejudicaram o desenvolvimento da vacina contra a pólio. A primeira vacina contra pólio e contra raiva funcionou bem em animais, mas matou as pessoas que receberam a aplicação,” conta Dr. Albert Sabin.

Tradição feita tijolo a tijolo

•outubro 30, 2008 • Deixe um comentário

 Professor do Mackenzie é responsável pela revitalização da Liberdade

POR GABRIELA AMARAL

 A faculdade Mackenzie de Arquitetura e Urbanismo foi a primeira de São Paulo e a segunda do Brasil, criada em 1947. Uma das mais importantes escolas de Arquitetura do país teve sua origem na Escola de Engenharia Mackenzie, onde desde o início do século já funcionava o curso de Engenheiro-Arquiteto. Seu primeiro diretor, considerado também seu fundador, foi o arquiteto Cristiano Stockler das Neves, idealizador, entre outros, do edifício da Estação Júlio Prestes em São Paulo. Hoje a faculdade possui mais de 3 mil alunos e abriga os cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Desenho Industrial.

No entanto não ficaram no passado os nomes conceituados. Atualmente um professor aparece em programas de televisão, reportagens e entrevistas diversas. Marcio Lupion, ex-monge e arquiteto, é um dos responsáveis pela revitalização do bairro da Liberdade. A semente do projeto foi lançada há dois anos, quando Lupion e o filho, Gabriel, passeavam pela Liberdade e se impressionaram com uma cena inusitada. Eles observaram um grupo de turistas japoneses descerem do ônibus para tirar fotos de uma praça do bairro, mas decepcionados com o que viram não tiraram as fotos. Foi quando o filho dele lhe perguntou: “Pai, você é arquiteto e não vai fazer nada?”. “Aí não teve jeito, tive de parar para pensar naquilo e surgiu a idéia de revitalizar o bairro e devolver para São Paulo a alma de uma cidade afetiva”, conta ele.

O projeto destinado ao bairro tipicamente oriental vigorou com a vinda do imperador para o Brasil. Segundo a lenda, onde o imperador japonês pisa, tudo floresce. Quando esteve por aqui, em 1997, seus passos geraram bons frutos. O príncipe, atual imperador, percorreu a rua Tomás Gonzaga, passou pela rua Galvão Bueno e encerrou seu passeio na Praça da Liberdade. Esse trajeto ficou conhecido como “Caminho do Imperador” e inspirou o arquiteto Márcio Lupion a criar o projeto.

A primeira fase das obras começou em abril e tem previsão de conclusão para dezembro. Entre os locais que passarão por mudanças, estão as fachadas dos comércios, os viadutos Cidade de Osaka, Shuhei Uetsuka, Mie Ken e Guilherme de Almeida. A praça Almeida Júnior também será reformulada. Uma das novidades é a escultura de um Buda em pedra, de 6 metros de altura. E como o bairro agrega diversas comunidades orientais, cada uma delas, seja coreana, japonesa ou chinesa, será respeitada. “As fachadas das lojas, por exemplo, vão obedecer a suas características.” diz Lupion.
 
Com as obras no início os comerciantes da região estão um pouco irritados. “Não está como em Tóquio, Bangkok. Lá é tudo colorido e bagunçado”, declara Shang, proprietário de um mercado típico japonês no bairro. Contudo a iniciativa de reurbanização fez a visibilidade da região aumentar. “Está ficando bonito, estava precisando de uma limpeza, vamos esperar pra ver o resultado final”, acrescenta.

A ligação de Lupion com o Mackenzie vem da época em que ele era apenas aluno. Aos 20 anos ingressou no curso de Desenho Industrial. Diferentemente do formato atual, a escolha pelo aprendizado específico só vinha depois de um ano destinado ao lado artístico. “No quarto ano de faculdade, quando já estava em arquitetura, tive professores que eram anjos, filósofos. Professores que olhavam e falavam pra mim: ‘Marcio, arquitetura é para gênios’. Ao mesmo tempo tinham profissionais que não estavam muito interessados.”, relembra a fase em que era aluno. Depois de um tempo ele foi convidado para trabalhar como professor do curso e já está atuando no Mackenzie há 20 anos. Profissional renomado, Lupion fez mestrado e completou seu doutorado na mesma faculdade. Sobre o Mackenzie ele é só elogios: “O Mackenzie hoje é o que sobrou do universo de bondade”.

Após a liberdade, mais oito bairros chegaram como propostas para a aprovação do arquiteto. “Hoje eu tenho um pedaço enorme da cidade para reformar. O importante é você sempre deixar o lugar melhor do que ele está”. Isso revela como a faculdade é influente e espalha pela cidade obras projetadas pelo seu corpo docente: Igor Guatelli com o projeto Baixios do Viaduto e Spandoni com o projeto Pavilhão Loja SESC, representam bem essa realidade.

A Profª. Drª. Nadia Somekh, diretora do curso de Arquitetura e Urbanismo, exalta a qualidade do curso e o reflexo que isso proporciona aos formandos. “Possuir no corpo docente professores conceituados que tem obras espalhadas pela cidade influencia na inspiração que pretendemos despertar nos alunos”. Ela tem orgulho de ter profissionais como Marcio Lupion, mas enfatiza os muitos outros que constroem essa tradição. Fundamental é traçar com todas essas histórias o futuro de uma faculdade que molda o destino daqueles que estão dentro dela. E esses aprendizados todos não valem apenas na teoria, o importante é praticar: rascunhos e rascunhos na mão.