Embora os patrocínios e incentivos tenham crescido, as pequenas produções cinematográficas continuam a enfrentar dificuldades para ganhar notoriedade e independência.
POR MONICA KEIKO E PAULA BARRA
Caminhos alternativos são trilhados pelos produtores de curta-metragem para conseguir algum espaço dentro do cenário de produção audiovisual no país. A visibilidade dos filmes é praticamente restrita aos festivais. O longa-metragem ainda desperta maior interesse no grande público porque conta com grandes patrocinadores e produção grandiosa. A publicidade envolvida contribui para a divulgação, produção e exibição; diferente do que ocorre com o curta-metragem.
Um dos indicados e premiados do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo desse ano foi o curta Café com Leite, dirigido e produzido por Daniel Ribeiro. Apesar de reconhecer que o investimento na produção e em festivais cresce cada vez mais, o jovem cineasta acredita que atualmente o curta serve como um exercício para no futuro se chegar ao longa-metragem. “Funciona como curta também, mas é mais um portfólio”, afirmou. E é dirigir um longa-metragem que Daniel pretende daqui pra frente. “Estou pensando em roteiro e tudo mais, estou trabalhando pra isso”.
O público do curta-metragem não se compara ao público do longa, nem em quantidade e nem em perfil. Mesmo porque esse público ainda se restringe, em sua maioria, a cinéfilos, estudantes de cinema e pessoas envolvidas com audiovisual. “Muitos amigos de cineastas e gente envolvida com cinema”, disse Ribeiro.
A maioria dos curtas busca patrocínio através da Lei Rouanet, e seus projetos são analisados pela Secretaria do audiovisual, vinculada ao Ministério da Cultura. Outros buscam patrocínio através da Lei do Audiovisual, e esses projetos são analisados pela Agência Nacional de Cinema. No processo de seleção não é julgado o roteiro do ponto de vista artístico, apenas verificado se o seu orçamento real coincide com o orçamento apresentado. Também é verificado se a empresa produtora proponente do projeto está em dia com suas obrigações legais (imposto de renda, ISS, registro na Ancine). “O Estado não pode financiar projetos de empresas que não estejam absolutamente em dia com a lei. Se esses requisitos forem atendidos, o projeto estará apto a captar recursos na iniciativa privada ou em empresas estatais, que podem abater do seu imposto de renda a pagar o financiamento de projetos culturais”, explica o assessor de imprensa da Ancine, João Carlos Rodrigues.
Quanto à verba destinada ao investimento, Rodrigues afirma que não há uma porcentagem certa destinada aos curtas e aos longas; os projetos são apreciados pela data de entrada na agência, sem preconceitos quanto ao formato, duração ou unidade da federação.
Segundo o assessor, o retorno que esse tipo de produção audiovisual traz aos patrocinadores não é significativo no aspecto financeiro. “O maior retorno é cultural”, declara.
A divulgação e o patrocínio são as maiores dificuldades e limitações. No entanto, a Internet ampliou o meio de propagação dessas produções. Alguns sites disponibilizam conteúdo específico para os apreciadores da cultura dos filmes em formato de até quinze minutos, que se expandiu pelo Brasil a partir da década de 70. O portal da Petrobrás destinou uma área para o tema, filmes premiados em importantes festivais fazem parte do acervo do site. A empresa é a maior patrocinadora de cultura no país; em 2007, investiu 172 milhões de reais. Além de ajudar na circulação dos curtas, apóia diversas iniciativas de difusão da produção nacional.
A televisão contribui também, porém com uma parcela ainda pequena de canais interessados em tornar visível o assunto. O Canal Brasil exibe durante o ano inteiro o programa “Curta na Tela”. Em paralelo, apresenta a edição anual do Grande Prêmio Canal Brasil de Curta. O projeto televisivo conta com o apóio de um júri para selecionar, nos principais festivais do país, os melhores filmes nacionais que serão exibidos e concorrerão ao prêmio de 50 mil reais. André Saddy, gerente de Projetos, reforça o estímulo que o canal oferece aos curtas. “Exibição em horário nobre e o aumento das premiações”.
De acordo com Saddy, o público do Canal Brasil é mais escolarizado e em torno de 35 anos. “Há sempre bastante audiência nas sessões fixas do canal para apresentação de curtas. Um caminho alternativo para as pessoas que só os assistiam em festivais”.